Caro leitor,

Trago neste texto um breve relato de experiência e reflexão sobre planejamento.

Planejar é verbo transitivo direto, que significa: organizar plano ou roteiro de, programar. O
dicionário porém não trás o significado subjetivo desta palavra e seus benefícios para o
profissional que planeja suas ações.

Uma vez, durante um estágio em uma grande empresa, recebi um feedback bastante
interessante: “Você gasta muito tempo planejando suas ações. Aqui precisamos de
resultado mais rápido. Tem que agir logo, entregar.”

A princípio, eu fiquei encucado: “Como assim agir sem planejar, chefe? Está em mim, é
importante.” Só pensei, não disse nada. Muito cedo pra isso. Mal havia entendido o que ele
queria dizer.

Passei algum tempo refletindo. Fato é que todo feedback é um presente. Basta estar
disposto a aceitá-lo. Aos poucos a ideia amadureceu.

Não deixei de planejar. Não deixaria. Apenas coloquei em prática algo que um tempo
depois, durante a pós-graduação, vim a descobrir o nome: planejamento por ondas
sucessivas.

Na prática eu passei a quebrar as minhas grandes entregas em fases, planejar as fases
individualmente, e começar a agir ao fim do planejamento de cada pequena fase. Não mais
planejava a entrega inteira para iniciar o trabalho. Ganhei agilidade. Eu abri o meu presente.
Continuei planejando e reduzi o tempo das minhas entregas.

Além disso, à medida que eu aprendia na prática cada vez mais sobre o que eu estava
fazendo, o nível do planejamento das fases subsequentes aumentava, melhorando a
qualidade das minhas entregas. Foi um marco na minha vida profissional.

A importância de um planejamento bem feito é reconhecida por profissionais da àrea. O
guia PMBOK de Gestão de Projetos por exemplo, possui 24 dos seus 49 processos
dedicados ao grupo de Planejamento.

Também reconhecida por figuras históricas, como Abraham Lincoln, que certa vez teria dito
algo do tipo: “Se tivesse 8 horas para cortar uma árvore, gastaria 6 amolando meu
machado.”

Por falar em machado e árvore, a sabedoria popular também reconhece a importância do
planejamento. Há uma parábola que conta que um lenhador júnior desafiou um lenhador
sênior a ver quem cortaria mais árvores em um intervalo de tempo. Durante a disputa o
jovem empreendeu grande esforço físico golpeando sem parar. Vez e outra olhava para o
adversário e por vezes o viu sentado “descansando”. Ao fim do tempo, o jovem certo de que
havia desbancado o experiente lenhador, foi surpreendido pela contagem. Perdeu. E foi um
verdadeiro baile, um chocolate. O jovem então questionou o experiente lenhador: “Como o
senhor cortou mais árvores que eu? Não parei um segundo de golpear e ainda o vi por
várias vezes sentado descansando!”. O lenhador sênior, calmo e com um leve sorriso,
respondeu: ” Engano seu jovem. Enquanto sentado, eu não estava descansando. Estava
amolando meu machado para a próxima árvore.”

Planejar não é tempo gasto. É tempo investido. Talvez no dicionário da vida, além do
significado, poderíamos incluir os benefícios do planejamento como o aumento das chances
de sucesso do empreendimento, melhor gerenciamento de mudanças, otimização dos usos
de recursos organizacionais e a satisfação das expectativas das partes interessadas.

Planeje-se.

Hugo Magalhães da Fonseca
Engenheiro Químico
Pós-graduando em Gestão de Projetos
Pesquisador do departamento de P&D da JBS S.A.